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Tudo sobre o uso da gordura como fonte de energia: parte 1

PIPietra Fogaça
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Tudo sobre o uso da gordura como fonte de energia: parte 1

Primeiramente, é necessário entendermos que o tecido fundamental armazenador de gorduras é o tecido adiposo, já que ele é formado por células especializadas (tecido conjuntivo especializado). Essas células especializadas são chamadas de “adipócitos”, e elas têm a capacidade de armazenar triglicerídeos (também chamados de triacilgliceróis), que são basicamente a união de três ácidos graxos com uma molécula de glicerol. Nós temos esses adipócitos na região subcutânea, pois temos uma grande camada de tecido adiposo nesse local, e também temos adipócitos na região visceral abdominal (envolvendo as vísceras). Esse último é o deposito de gordura que confere maior risco cardiometabólico (ou seja, risco para hipertensão, diabetes, dislipidemia, câncer, etc.). Esse tipo de tecido envolve órgãos como o fígado, o intestino e o estômago.

No entanto, em alguns casos, esse depósito de gordura visceral é tão grande que chega a envolver o coração. A enzima Lipase Hormônio Sensitiva (LHS) é uma enzima do tecido adiposo que, quando ativada, é responsável por fazer a remoção de triglicerídeo do adipócito, pois ela quebra as ligações do triglicerídeo e libera seu conteúdo na forma de 3 ácidos graxos livres e 1 glicerol para a corrente sanguínea. A enzima Lipase Lipoproteica (LPL) faz o contrário, ela reconstitui triglicerídeo ao religar 3 ácidos graxos com glicerol. Ou seja, há um balanço, mediado por essas duas enzimas, que controla a quebra ou a síntese/formação de triglicerídeo. Esse balanço depende do sistema energético, mas também do sistema endócrino, pois essas enzimas são sensíveis a determinados sistemas hormonais (insulina, glucagon, catecolaminas, GH, cortisol).

Um bom exemplo seria o seguinte: eu acordo em jejum e, portanto, a minha glicemia e meus níveis de insulina no sangue estão mais baixos, mas, em contrapartida, o nível do hormônio glucagon está alto. A insulina ativa a LPL e o glucagon ativa a LHS, ou seja, em jejum eu não tenho estímulo para a síntese de triglicerídeo (já que a insulina está baixa). Por outro lado, tenho estímulo para a quebra de triglicerídeo ao ativar a LHS, pois o glucagon está alto. Nesse último cenário, eu ativo a LHS, quebro triglicerídeo, uso ácidos graxos livres como fonte de energia e passo a poupar carboidrato (“economizo” o uso de carboidratos como fonte de energia)! Todavia, quando consumo o meu café da manhã logo depois, eu aumento a minha glicemia e, consequentemente, a insulina. Além disso, os níveis de glucagon irão cair, fazendo com que eu passe a sintetizar triglicerídeos.

Ou seja, normalmente, os indivíduos vão intercalando o dia com momentos de alimentação e momentos de jejum. Se o indivíduo realiza um exercício físico, o exercício irá produzir uma queda nos níveis de insulina, além de um aumento nos níveis de glucagon e aumento de catecolaminas (tanto o glucagon quanto as catecolaminas estimulam a LHS).

Devemos entender, portanto, que quando falamos de um HORMÔNIO, na grande maioria das vezes estamos falando de uma ação ENDÓCRINA e, portanto, esse hormônio - que é secretado de uma região do corpo - será lançado na corrente sanguínea e agirá à distância... Ele agirá de maneira SISTÊMICA, ou seja, em todo o organismo! Logo, o glucagon - que é lançado na corrente sanguínea - irá agir no corpo inteiro, e a concentração de glucagon será a mesma caso você retire sangue do pé ou da mão... Isso quer dizer que ele circula da mesma forma, para diferentes redes vasculares e, quando ele chega nesses leitos vasculares, entra em contato com o tecido adiposo do corpo, de forma a exercer sua ação... Dessa forma, estarei ativando a LHS de todo o corpo, quebrando triglicerídeos de todo o corpo e todo o corpo estará “lançando” ácidos graxos livres na corrente sanguínea. Esses ácidos graxos livres, então, serão transportados até o local onde há necessidade de energia (como o músculo esquelético).

Pietra FogaçaPI