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Suplementação de cafeína: vale a pena?

PIPietra Fogaça
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Suplementação de cafeína: vale a pena?

A cafeína é um dos suplementos mais estudados - até por isso que ela é nível A em comprovação científica - e utilizados atualmente, principalmente quando pensamos em fins esportivos, ainda que ela também auxilie na performance cognitiva...

Nas doses adequadas (3 a 6mg por kg de peso corporal total) e no timing correto (ou seja, consumir ela 1 hora antes de ir se exercitar), a suplementação de cafeína pode diminuir a exaustão e, consequentemente, melhorar a performance esportiva! Após 1 hora do consumo da cafeína, ocorre o que chamamos de “pico plasmático”, ou seja, ela atinge seus níveis máximos no plasma sanguíneo e, por isso, ela deva ser tomada cerca de 1 hora antes do treino.

Todavia, vale lembrar que cada indivíduo metaboliza a cafeína de uma forma diferente e, por isso, é importante ter cautela e ir progredindo a dose aos poucos... Nós metabolizamos a cafeína através da enzima CYP1A2 e há pessoas que, naturalmente, por questões genéticas, possuem uma menor atividade dessa enzima, enquanto outras possuem maior atividade. Isso é o que chamamos de variabilidade genética, e isso explica por que alguns indivíduos são mais sensíveis à suplementação do que outros.

Mas vale lembrar que, conforme o indivíduo começa a aumentar bastante o seu consumo de cafeína, a expressão dessa enzima CYP1A2 pode começar a aumentar também (ocorre um aumento da atividade dela). Dessa forma, esse indivíduo começa a metabolizar melhor a cafeína e, consequentemente, diminui a sua sensibilidade à cafeína.

Logo, como ocorreu uma diminuição da sensibilidade, pode ser que esse indivíduo precise aumentar a dose consumida de cafeína para sentir o mesmo efeito que sentia antes. Vale lembrar que, por mais que exista sim certa “dependência” com a cafeína, ainda assim isso não caracteriza um “vício”, até porque você pode reverter essa situação suspendendo o uso da cafeína por algum período relativamente curto de tempo!

Além disso, também é importante ressaltar que a cafeína NÃO é um termogênico... Os termogênicos normalmente são fármacos - de uso controlado – que atuam aumentando o déficit calórico, seja por meio do aumento do gasto energético ou seja por meio da diminuição da ingestão alimentar.

No caso da cafeína, por mais que ela atue sim aumentando a lipólise no tecido adiposo (processo em que se quebra o triacilglicerol em 3 ácidos graxos e 1 glicerol), por conta da sua atuação no aumento dos níveis das catecolaminas (adrenalina e noradrenalina), ainda assim esse efeito na perda de gordura é muito BAIXO!

E, fora isso, é importante ressaltar que, para que ocorra o emagrecimento (perda de gordura corpora), não basta apenas fazer mais lipólise (quebra da gordura), é preciso também queimar essa gordura que foi quebrada (processo conhecido como beta-oxidação). Além disso, também é necessário que a quebra e queima da gordura seja SUPERIOR a ingestão alimentar, porque não adianta nada quebrar e queimar mais gordura se está entrando mais energia na forma de alimento e, portanto, está sendo ESTOCADO mais energia ainda.

Ou seja, o efeito termogênico (aumento do gasto calórico) promovido pela cafeína - e pelo consumo de café também - é muito pequeno (cerca de 50kcal/dia), não sendo significativo quando pensamos em emagrecimento!

Vale lembrar que, por mais que seja um suplemento muito estudado e útil para diversos casos, ainda assim há contraindicações para o uso da cafeína...

Indivíduos que sofrem com ansiedade não devem fazer uso desse suplemento, pois a cafeína age aumentando os níveis das catecolaminas e, portanto, aumentando a frequência cardíaca (número de vezes que o coração bate por minuto), podendo causar um episódio de taquicardia (frequência cardíaca muito aumentada), o que é extremamente perigoso.

Além disso, no caso do paciente com hipertensão arterial sistêmica, o cuidado também deve ser redobrado. Com o consumo da cafeína, ocorre aumento da liberação de catecolaminas, ativação de receptores adrenérgicos beta 1, aumento do débito cardíaco, aumento da frequência cardíaca e aumento da pressão arterial. Dessa forma, estimulantes como a cafeína podem, de maneira aguda, piorar o quadro do paciente que já é hipertenso e, por isso, não é interessante trabalhar com estimulantes nesse tipo de paciente.

Outro cuidado importante se refere a pacientes que possuem algum tipo de questão ou patologia intestinal que dificulte a absorção dos nutrientes, nesses casos a suplementação de cafeína deve ser evitada, na grande maioria das vezes... No caso de pacientes veganos, pode ser interessante evitar o consumo de cafeína imediatamente após as refeições principais, pois pode atrapalhar um pouco a absorção de alguns nutrientes que já estão mais limitados nesse tipo de dieta e, consequentemente, estão em mais chance de estar deficientes.

Pietra FogaçaPI