Mounjaro vale a pena?

Mounjaro é o nome comercial da tirzepatida, um medicamento injetável que vem sendo utilizado inicialmente no tratamento do diabetes tipo 2, mas que nos últimos meses ganhou grande destaque por seu potencial no emagrecimento. Assim como o Ozempic, ele atua na regulação da saciedade e da glicemia, mas de uma forma ainda mais completa, sendo considerado por muitos como a “nova geração” dos análogos de incretina.
A tirzepatida tem uma ação dupla: age como agonista dos receptores de GLP-1 e GIP. Esses dois hormônios são incretinas, ou seja, hormônios liberados pelo intestino em resposta à ingestão alimentar, com o objetivo de otimizar o metabolismo. O GLP-1 já é bem conhecido por seu papel em aumentar a saciedade, reduzir o esvaziamento gástrico e estimular a secreção de insulina. O GIP, por sua vez, também atua aumentando a secreção de insulina e pode contribuir para uma resposta metabólica ainda mais intensa quando combinado ao GLP-1. Isso torna o Mounjaro uma medicação mais potente que os análogos simples, como a semaglutida.
Estudos clínicos mostraram que a tirzepatida pode promover uma perda de peso significativa. Em alguns casos, os pacientes chegaram a perder até 22% do peso corporal ao longo de 72 semanas de uso. Essa perda, inclusive, é comparável à de cirurgias bariátricas em determinados perfis. Além disso, o medicamento demonstrou melhora importante nos níveis de glicemia, perfil lipídico, pressão arterial e outros marcadores metabólicos.
Apesar de todos os benefícios, o uso de Mounjaro não está livre de riscos. Os efeitos colaterais mais comuns são gastrointestinais, como náuseas, vômitos, diarreia ou constipação. Esses sintomas tendem a ser mais intensos nas primeiras semanas ou quando há aumento de dose. Outro ponto importante é que o medicamento pode causar perda de massa muscular em pacientes que não consomem uma quantidade adequada de proteínas ou não praticam exercícios físicos de força, como a musculação.
Além disso, há também um risco mais silencioso: o impacto no comportamento alimentar. O Mounjaro reduz muito o apetite, o que pode parecer excelente num primeiro momento, mas nem sempre ensina o indivíduo a lidar com a comida de forma saudável. Isso significa que, ao interromper o uso, muitas pessoas voltam a apresentar os mesmos comportamentos anteriores e acabam reganhando peso. Ou seja, se não houver mudança de hábitos, os resultados não se sustentam.
Vale lembrar que o medicamento ainda é novo e, embora os dados iniciais sejam promissores, os efeitos a longo prazo ainda estão sendo investigados. Também existem riscos mais raros descritos na literatura, como casos de pancreatite e complicações na vesícula biliar, que exigem atenção redobrada durante o acompanhamento médico.
Em resumo, o Mounjaro pode sim ser uma ferramenta válida no tratamento da obesidade e no controle metabólico. Mas ele não é um atalho mágico. A medicação funciona melhor quando está inserida dentro de um processo maior, que envolve orientação nutricional, movimento corporal, sono adequado e saúde emocional. O grande erro é acreditar que apenas o uso da injeção vai resolver todas as dificuldades com o peso.
Se o objetivo é emagrecer de forma sustentável, com manutenção dos resultados a longo prazo, o mais importante continua sendo a construção de novos hábitos, alinhados com a realidade de cada pessoa. A tirzepatida pode ser um empurrão inicial, mas não deve ser encarada como solução definitiva.
Caso você esteja considerando o uso ou já esteja utilizando essa medicação, vale muito a pena investir também em um acompanhamento nutricional que te ajude a preservar massa magra, manter saciedade mesmo com porções menores, e estruturar uma alimentação realista e individualizada. É esse suporte que garante que os resultados não se percam com o tempo.